Palavra de Viajante

Impressões duma Viagem à América

Natália Correia foi uma figura ímpar da vida cultural e política portuguesa. Poeta, jornalista, escritora (para além dos poemas, na sua obra encontramos romances, contos, peças de teatro e ensaios), editora e deputada à Assembleia da República, de 1980 a 1991, esta açoriana foi uma feroz defensora dos direitos humanos, em geral, e dos direitos das mulheres, em particular. Combativa, oposicionista ao regime do Estado Novo, oradora brilhante e mordaz, foi uma das fundadoras do bar Botequim (junto com Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta) onde, durante as décadas de 1970 e 1980, se reunia muita da intelectualidade portuguesa.

Em Junho de 1950, com apenas vinte e seis anos, faz uma viagem aos Estados Unidos da América, por incumbência de António Sérgio, com o objectivo de pedir a colaboração do líder do Partido Socialista dos E.U.A., Norman Thomas, para a luta a favor da democracia em Portugal. Regressaria a este país em 1978 e, também, em 1983, em representação do então Presidente da República, General Ramalho Eanes.  

Dessa sua primeira visita deixou este registo extenso e intenso, fruto de uma grande capacidade de observação e de análise sobre a sociedade norte-americana, o capitalismo e a sua obsessão com a eficácia, a pobreza gastronómica das refeições e a generosidade dos grandes patronos. O misto de sentimentos que os Estados Unidos gera em quem os visita, aquilo que designa normalmente por relação de amor-ódio, Natália Correia resume-o desta forma: “Este país confunde as pessoas com melhores ou piores intenções a seu respeito”.   

Com a enorme capacidade que a poeta tinha para usar a linguagem, facilmente se adivinha que este é um livro verdadeiramente brilhante, uma crítica feroz ao “american way of life”, com momentos hilariantes e uma sinceridade de reflexões e opiniões que, hoje, nesta época de pensamento politicamente correcto, poderá deixar algumas pessoas profundamente chocadas. Outras ficarão abismadas com a clarividência de Natália Correia e com a sua capacidade de prever situações futuras e, até, de apresentar uma solução perfeitamente inovadora para os problemas da Europa: esta “devia reunir-se numa cooperação económica. Era talvez o caminho mais longo para a solução das suas dificuldades, mas o processo seguro de salvar a sua independência”. Por contraponto, a América “remeter-se-ia ao seu isolacionismo primitivo”.  “Descobri que Era Europeia. Impressões duma Viagem à América” teve agora nova edição pela Ponto de Fuga. Felizmente!


Título: Descobri que Era Europeia. Impressões duma Viagem à América

Autora: Natália Correia

Editora: Ponto de Fuga

Idioma: Português

Género: Relato de viagem

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